Uma apresentação de Rispa
Rispa era filha de “Aiá”. A menção
do nome de seu pai sugere que a família dela deve ter sido importante e que ela
não era uma simples es crava. Seu nome significa: “brasa viva”. Rispa foi
concubina do rei Saul e teve dois filhos com ele – Armoni e Mefibosete. Após a
morte de Saul, Rispa ficou viúva com dois filhos para criar. Como Isbosete
perdeu o reino e foi morto, tudo indicava que a vida de Rispa não lhe oferecia
nenhuma perspectiva alvissareira. Diante desse quadro desolador, a dor dela aumentou
quando Davi mandou entregar seus dois filhos aos gibeonitas, os quais os
enforcaram. Rispa, viúva, acusada de ter tido um caso com o general Abner,
agora estava sem filhos e parecia totalmente abandonada. Diante desse quadro,
seria normal que ela se julgasse vítima. Mas sua atitude foi nobre e elevada.
Ela não reclamou, não se queixou, mas agiu. Construiu uma barraca improvisada
com panos pretos e, por muitas semanas, cuidou dos sete corpos em decomposição para
que as aves de rapina e animais selvagens não os devorassem, até Davi ordenar
que eles fossem sepultados com dignidade. Aqui cabe mencionar algumas características
dessa nobre mulher:
1. Rispa deixou nos registros da história uma atitude
proativa.
2. Poucas de suas ações podem ser consideradas grandes
atos. Mas ela “é”. O ponto forte aqui é SER.
3. Ao acusar Abner de adultério com Rispa, Isbosete nem sequer
mencionou o nome dela. Disse apenas: “Por que possuíste a concubina de meu pai? (2Sm 3:7) E Abner, insensível e indignado,
respondeu: “Você está me acusando pela maldade de uma mulher” (2Sm 3:8). Embora fosse tão desconsiderada pelos homens, a
simples menção dela mudou a história de Israel.
4. Ela foi uma mulher perseverante. Viveu com desconforto
por um longo período ao ar livre, suportando sereno e sol, dia e noite, até que
seus amados fossem tratados com respeito e dignidade.
5. Rispa não era uma pessoa pronta a reclamar de tudo e de
todos. Viveu em silêncio. Mas falou muito alto.
6. Ela manifestou amor e paixão pela vida. 7. Mãe
digna de honra.8. Mãe
dedicada e fiel.
O que era uma concubina?
“Modernamente, o concubinato é um termo jurídico que especifica uma
união não formalizada pelo casamento civil.” Sendo que a sociedade ocidental em
que o Brasil se enquadra é baseada no princípio monogâmico do casamento, como
sociedade e como Igreja, não aceitamos o concubinato como praticado nos tempos
da monarquia em Israel e arredores. O autor da lição resume o formato da
concubina nas seguintes palavras: “Frequentemente, as concubinas eram tiradas
de entre as servas ou empregadas de uma família. Seu propósito expresso era
produzir herdeiros e, se produziam descendentes masculinos, seu status e posição
social eram semelhantes aos das esposas legítimas. Os homens eram considerados
maridos de suas concubinas (Jz 20:4). Seus filhos apareciam nas genealogias (Gn
22:24) e recebiam parte da herança (Gn 25:5, 6).
É interessante notar que as concubinas apareciam principalmente no
período patriarcal. “Durante a primeira monarquia, as concubinas estavam
relacionadas com as casas reais” (Lição da Escola Sabatina, 21 de novembro de
2010). Nos tempos bíblicos, uma concubina não era simplesmente escrava ou,
pior, escrava sexual. Ela era esposa com direitos legais. No caso de Rispa, ela
era concubina do rei Saul. Era uma mãe dedicada e vivia no palácio real.
Entretanto, com os rumos políticos tomados após a morte de Saul, “Rispa não
tinha segurança. Seu destino parecia totalmente fora de suas mãos, determinado
por forças e circunstâncias além de sua autoridade ou controle.”
Atos falam mais que palavras
Houve três anos de fome
em Israel. Foi um tempo difícil e com grandes perdas para o povo e a nação. Então,
o rei Davi consultou ao Senhor e veio a resposta divina: “Há culpa de sangue
sobre Saul e sobre a sua casa, porque ele matou os gibeonitas” (2Sm 21:1). Davi
chamou os gibeonitas e lhes perguntou: “O que quereis que vos faça? E que
resgate vos darei, para que abençoeis a herança do Senhor?” E a sua resposta
foi: “Não é por prata nem ouro que temos questão com Saul e com sua casa; nem
tampouco pretendemos matar pessoa alguma em Israel [...] Quanto ao homem que
nos destruiu e procurou que fôssemos assolados, sem que pudéssemos subsistir em
limite algum de Israel, de seus filhos se nos deem sete homens, para que os
enforquemos ao Senhor, em Gibeá de Saul, o eleito do Senhor...” (2Sm 21:3-6).
A influência de Rispa na unificação do
reino
A história de Rispa está marcada
por apenas dois incidentes:
1. No primeiro, ela não teve participação ativa e
envolvente. Mas se tornou figura decisiva. Simplesmente, ela foi o motivo que
levou Abner a abandonar seu posto de general de Isbosete e debandar para o
reino de Davi, abrindo caminho para que todo Israel seguisse o filho de Jessé.
Rispa foi a causa silenciosa. Pessoalmente, creio que Abner estava procurando
um pretexto para fazer o que fez. E viu na acusação de Isbosete a áurea
oportunidade que procurava. Embora Rispa não tivesse parte ativa, ela foi
decisiva no novo rumo que a história de Israel tomou. Gerald Klingbeil diz:
“Foi realmente a menção do nome de Rispa que provocou essa mudança. Embora
Rispa não seja ativa no relato, ela é altamente significativa” (Lição, 22 de novembro de 2010). Rispa
ficou no meio do “tiroteio” entre Isbosete e Abner. Ambos saíram perdendo e
foram mortos. E ela ganhou a guerra sem dar nenhum “tiro”.
2. No segundo incidente, a participação de Rispa é
silenciosa mas ativa e participativa. Depois de terem sido enforcados
os sete homens da família de Saul, incluindo seus dois filhos, os executores
gibeonitas os abandonaram ao ar livre, expostos às aves de rapina e animais
selvagens. Não tendo permissão para sepultar com dignidade seus queridos, nem
tendo a quem recorrer, Rispa fez o que podia. O relato sagrado diz: "Então
Rispa, filha de Aiá, tomou um pano de cilício e estendeu-lho sobre uma penha,
desde o princípio da colheita, até que a água do céu caiu sobre eles. Ela não
deixou as aves do céu pousarem sobre eles durante o dia, nem os animais do
campo durante a noite" (2Sam 21:10). Alguns comentaristas dizem
que essa vigília de Rispa durou dois meses. Outros chegam a mencionar seis
meses (Chantal y Gerald Klingbeil - Histórias
Poco Contadas, p. 98). Não importa quanto tempo ela ficou ali. O que nos impressiona
é o idealismo, a garra, a constância e a espera de Rispa. Cuidando noite e dia dos
restos mortais de seus amados e enxotando os animais e as aves. É interessante
notar que a chuva, como resposta de Deus, não caiu após a execução dos sete
descendentes de Saul. Mas somente após Davi ordenar o sepultamento deles com
dignidade. Alguns rabinos dizem que Davi fez uma grande procissão pelos
territórios de Israel para sepultar esses mortos (Chantal y Gerald Klingbeil - Histórias Poco Contadas, p. 98).
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